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ESCRITORES


José Roberto Vasconcellos                              09-05-2005


CURIOSIDADES SOBRE O BAIRRO DO TABOÃO



Século 19

Documentos antigos de Vila Nova Bragança, fazem referência da existência de    diversos TANQUES (pequenos açudes ou lagoa artificial) na “Vila”.
Essas LAGOAS  de pequena extensão – charcos ou pântanos -  com o passar dos anos viraram LAGÔES.   Hoje, podemos citar o  Taque do Moinho e o Lago do Taboão.
 Por volta de 1830/1850, o vigário da cidade – Pe. José Jacinto da Silveira -  era dono de grande extensão de terras:  na região do baixo  Caetê até o  Alto do Campo Novo. Nessas terras existia uma lagoa conhecida como TANQUE DO PADRE  JACINTO.  
 Esse mesmo tanque, no início do último século era chamado por TANQUE DO CANIVETE, formado pelas águas dos ribeirões Caetê e Bocaina, onde grande pescaria de taraira se fazia .     Aquele tanque com o passar dos anos, desapareceu da paisagem taboense, ressurgindo na década de 1960, e é hoje  é o nosso LAGO DO TABOÃO .

    # Esse relato é para provar que ninguém nesses últimos 50 anos, pode dizer que é o criador do Lago do Taboão.
    # O que se pode afirmar é que foi  uma única pessoa (e taboense nato)  o responsável pela provocação  há 44 anos do ressurgimento e formação do atual Lago,  e contando com o apoio e ajuda do DER,  de servidores municipais, de moradores do bairro e de modo especial dos funcionários da EFB.   Este apoio foi: braçal, financeiro e doações de  materiais de construção. Estamos nos referindo ao Professor Angelo Magrini Lisa.
    # O lago do Taboão sempre foi visado pelos políticos da cidade. Em abril de 1974, em pleno regime da ditadura militar, quando o lago ainda não estava pronto, um vereador de nossa Câmara, visando a bajulação pura e simples, apresentou projeto dando ao lago o nome de Presidente Ernesto Geisel. A imprensa bragantina e  especialmente a paulistana caíram de pau em cima do  vereador, que se viu forçado a retirar da pauta o demagógico projeto.

No bairro do Taboão,  em terras de propriedade de Alfeu Grimello,  havia várias nascentes de água.  Alfeu,  que era conhecido  pelos moradores da zona rural (bairros do Itapechinga e Campo Novo) pelo nome de  ORFEU direcionou as águas saídas das nascentes e as direcionou e  represou-as   formando uma pequena lagoa. Com o passar dos anos, essa lagoa que era piscosa, era freqüentada por pescadores e local de  natação e brincadeiras  pela petizada do bairro. Hoje o lago tem o nome oficial  de LAGO DO ORFEU.


Nome do bairro

1881 – Por ocasião de construção da EFB, o eng. Fernando de Albuquerque – fiscal do governo, em relatório elaborado para o presidente do Estado, assim escreveu: “Na cidade de Bragança, no lugar chamado CHAFARIZ DA BICA será construído uma estação de passageiros.”

O relato, revela que  CHAFARIZ DA BICA foi a 1ª denominação do n/ atual bairro. Com a inauguração da EFB (1884) a estação, então com  denominação  de BRAGANÇA, o bairro passou a ser conhecido como Bairro da Estação.

O bairro que era calmo, passou a ter grande movimento - na proximidade da Estação surgem: hotel, restaurante, padaria, lojas de fazendas e armarinhos  e armazéns de secos e molhados.
O bairro é núcleo de   imigrantes italianos e espanhóis: os Fascetti, Cucconelli, Royersi, Meneguzzi, Spinelli,  Fernandes e outras.

1889 -  A região da Estação  apresentava grande área comercial cujas atividades e profissionais eram:
 Costureira:  Eufemia Beretolotti
 Parteira|: Giovanna dos Santos
 Fábrica de Cerveja e Gasosa: Antonio Del Porto
 Fábrica de Macarrão: Vicente Romano
 Fábrica de Carros e Carroças: Fascetti  & Bertoloitti
 Fábrica de Sabão: Clemente Cuconelli
 Funileiro: Carlos Royersi
 Hotel: Ignácio Bartholomeu – Largo da Estação
 Restaurante: Antonio Meneguzzi – Largo da Estação
 Açougue: Raphael Scarglione
 Padaria: Luiz Petrone
 Serraria: Seragim Fernandes & Comp.
Máquinas de beneficiar café: (2): José Leite de Cerqueira campos e Gabriel da Silva Fagundes
 Lojas de Fazenda e Armarinhos:  Catarina Rezzara e Bertolotti x  Dois Irmãos,
Comissões, Secos e Molhados por Atacado: Ângelo Colombo, Bertolotti e Irmão.
 Armazém de Secos e Molhados: Vicente Romano, João Danilo, Francisco Spinelli, Hipólito Bertolotti, José Gallo, Catarina Rezara e Antonio |Meneguzzi, Pepino Giuseppe, Pietro Padori, José Serabino, Pepino Giuseppe, Eliseo Pierotti, Justo Campos e João Ferreira de Almeida.

Nas ruas mal traçadas e sem calçamento, eram sim em chão batido, apresentavam-se – poeirentas nos dias de sol e barrentas nas épocas de chuvas. Nessas ruas (Teixeira, da Estação, do Taboão) surgem novos estabelecimentos: Fábrica de Cerveja e Gasosa, de macarrão, de carros e carroças, de sabão, de beneficiar café.

A rua da Estação (hoje José Domingues) em quase toda sua extensão  era uma região cantareira,  de onde eram extraídas pedras de cantaria que foram utilizadas para o calçamento da cidade.  Foi desse local  que imigrantes italianos, extraíram as pedras, que trabalhadas se tornaram em 1913 as colunas da nossa antiga Matriz, depois Catedral . Hoje estas colunas ornam o visual da  Pça.  Raul Leme.

RIOS: Três  riachos com denominações guarani,  correm pelas terras do Taboão: O Inhaúma, pelo lado direito,  o Caeté (também, chamado São José) e o  Canivete ( hoje Lava-pés) pelo lado esquerdo.


SÉCULO 20

1908 – Inauguração do 1º campo de futebol, especialmente preparado para essa modalidade esportiva, tendo inclusive assentos de fila (espécie de “setor das numeradas”). O estádio localizava-se na vargem denominada “dos Atibaianos” situada na rua do Taboão. Nessa vargem existia uma grande plantação de repolhos, e quando das realizações de jogos de futebol, quando as torcidas brigavam, a arma utilizada eram os repolhos, daí surgir a brincadeira (?) de mexer com o pessoal do bairro, como morador do “bairro do  repolho”.
Essa brincadeira dava briga na certa.

1910 –Surge no bairro a Cia. Industria de Eletricidade (hoje relembrada como a Fábrica de Lampadas).  Aquela fábrica na Rua do Taboão produzia lâmpadas de filamento comuns e metálicos. Falida aquela Cia., no imenso prédio  funcionou uma Fábrica de Tecidos.

Por essa época, funcionava no bairro a Escola do Prof. Peluso, onde ensinava as primeiras letras as crianças do bairro e da zona rural. Foi seu ex-aluno  o Mons. TITO JOSE FELICE.


SURGIMENTO DO NOME TABOÃO

A estação ficava bem distante da área central da cidade, onde funcionava o grande comércio selecionado (na Rua do Comércio e Rua do Mercado) e do bairro porqueiro (o Matadouro). A “SPR” querendo estender a ferrovia até o interior de  Minas Gerais, deu inicio a construção de novas estações no território bragantino, todas em direção a MG. Em nossa cidade  construíram em 1913 uma  nova estação na baixada do Lava-Pés.
 Deram-lhe o nome de BRAGANÇA,  e  a  antiga estação, próxima a uma lagoa foi renomeada para  TABOÃO.
 Tudo faz crer, que o nome tem   relação  à  lagoa que era coberta por um TABOAL – uma espécie de  planta gramínea de região pantanosa, conhecida por:
TABOA .......TABOAL.........TABOÃO.........
Isto  é  que  nos transmite os antigos bragantinos.


A VIDA NO TABOÃO

Com a criação na cidade,  da 2ª estação ferroviária a movimentação do bairro, caiu bastante, pois, o comércio foi sendo transferindo paulatinamente  para à várzea do Lavapés.   O bairro parou, perdeu todo o seu movimento,  tornou-se por anos um bairro de moradia, só se agitando quando do  silvo estridente do apito das máquinas da Bragantina.  Lembro-me quando criança,  passeando  com minha bicicleta pelas ruas do bairro  via inúmeras famílias sentadas frente suas residências, onde senhoras conversavam com suas vizinhas ou faziam crochê ou bordados à mão. Os homens eu não via na rua, a maioria trabalhavam na ferrovia, outros provavelmente  estavam na  Ribeiro de Barros (espécie de “clube” dos ferroviários) -, jogando uma bisca ou truco. Por anos esta vida de marasmo ali permaneceu, o bairro não progredia,  não tinha escola.,  era um bairro de grande número de elementos analfabetos.

Por volta de 1931/35, surge a primeira pequeníssima luz para clarear o futuro do bairro: na rua José Domingues, a velha capela de Santa Cruz da Estação é demolida e em seu lugar surge uma  moderna e bela capela dedicada a N. Sra do Bom Parto,  construída por Dom José Maurício da Rocha – 1º Bispo de Bragança. A capela por muitos anos esteve sob responsabilidade dos PP. Agostianos,    Vizinho a capela, funcionava   empresa Raposo & Cia., respeitável comissária de café,  tinha o maior depósito de armazenagem de café da Zona Bragantina.

Nessa época era prefeito o bragantino Raul de Aguiar Leme que no popular Largo do Taboão dava início a formação de um belo jardim,  com  novos canteiros floridos. Ponto de partida dos voluntários bragantino para a Revolução de 1932,  a praça foi oficializada com a denominação de Praça 9 de Julho.  Hoje na praça, vê-se o belo Monumento aos Bragantinos  Mortos naquela revolução – é o maior e mais majestoso monumento da cidade. Na parte de traz do monumento, há uma placa com os nome daqueles 12 heróis.

No início da década dos anos 40, o bairro viveu um período de apreensão e incerteza – na Europa estourara um conflito, que na sua progressão tornou-se mundial – era a 2ª  Grande Guerra.  Do Taboão  dois de seus filhos fizeram parte do contingente a FEB e da estação do Taboão partiram  os  jovens expedicionários Luiz Caetano de Moura e Vicente Bernardi (Nino) que ao término da guerra, regressaram ao lar e  no Bairro se destacaram em  atividades do comércio.

Em 1951  a Auto Viação Bragança inaugura sua nova sede na Avenida José Gomes da Rocha Leal.    Próximo a Capela de Santa Luzia, surge o 1º loteamento do bairro - a Vila Isaura - continha  183 lotes.  Eram iniciativas isoladas. O Bairro exigia mais de seus capitalistas.

No ano de 1952, um jornalista bragantino, que muito batalhava na imprensa local e paulistana, em pró de sua terra natal , referindo-se sobre o bairro do  Taboão, publicou no BJ , ed. de 31/5) o artigo titulado “Urge cuidar-se do reerguimento do Taboão”. Naquela publicação destacava: Antigos moradores do Taboão, são grandes proprietários e de muitos recursos, mas em compensação. bastante conservadores. Em matéria de progresso, são demais refratários. É bem possível que por esses fatores, que a zona do Taboão não consegue tomar impulso. Concluiu aquele  artigo, com este brado: “Dirigentes do Estado, de Bragança, proprietários e capitalistas do “Taboão”, o reerguimento dessa parte da nossa cidade está dependendo, exclusivamente, da boa vontade de cada uma dos que, para isso, pode dar sua cooperação.”

Aquele brado, despertou o coração dos taboenses!   Vejamos.

O REERGUIMENTO DO TABOÃO

Na eleição municipal de 1959, um “filho do Taboão” era eleito prefeito – Prof. Ângelo Magrini Lisa, com um mandato de 1960 a 1963. quando se dá o início do reerguimento do bairro.

    # Por volta de 1959/60 era criado o Grupo Escolar do Taboão, por ato do governador Prof. Carlos Alberto de Carvalho Pinto, descendente de família bragantina. Era neto de Virgilio de  Carvalho Pinto, que foi vereador de n/ Câmara e o lº  bragantino nato, eleito deputado  para a Assembléia Legislativa paulista.
    # O Grupo do Taboão entrou em funcionamento em caráter provisório  em agosto de 1961, no prédio do sr. Jácomo Antonio Dorigo , o qual foi adaptado pela Prefeitura para esse fim. Iniciou com 4 classes, posteriormente criaram mais 3 classes.


* O Taboão teve um filho muito querido,  o negro PAULO SILVA.  Paulo ensinou, sem nada cobrar, as primeiras letras para  centenas e centenas de crianças do bairro. De fé católica, foi catequista durante 50 anos ou pouco mais. Dos antigos moradores do bairro, é raro não encontrar aquele que não recebeu ensinamento do Mestre Paulo Silva. Moço ainda, Paulo foi acometido de tenaz doença que o prostrou ao leito por muito anos, deixando seu corpo todo encolhido. Em sua casa na rua José Domingues,  sempre sorridente, tendo às mãos seu Tercinho de capim, dava aula de catecismo. Após seu falecimento,  moradores do bairro, encaminharam pedido ao Prefeito Municipal (que era taboense), sugerindo que ao novo  Grupo Escolar do Taboão,  fosse dado  nome Mestre Paulo Silva.  A oficialização se deu em .junho de 1963, por decreto do governador Ademar Pereira de Barros.


MODERNISMO


A Administração Municipal de 1960-1963 introduziu na Rua José Domingues o  calçamento por  bloquetes, que  em uso nunca apresentou qualquer problema.
Era de um belo visual.  Hoje o trecho está todo coberto por asfalto.


O AVANÇO DO TABOÃO

   # Com a vinda do potencial energético da CHERP, em 28-5-1961, Bragança solucionou definitivamente o grande drama que castigava o município: o problema da energia elétrica.  Naquela memorável noite, o bairro do Taboão teve as portas abertas para seu reerguimento:
    # Grimello foi o grande doador do terreno para a instalação do  Instituto do Ensino Superior de Bragança Paulista (com Faculdades de Medicina e de Direito): é hoje  a Universidade São Francisco;
    # a Variante do Taboão teve concluída sua pavimentação.

Com o passar dos anos, novos loteamentos foram surgindo na região do Taboão: Jardim São José, Jd. Europa, Jd. Califórnia e outros.  Área de laser e poli-esportivo, no bairro encontramos diversos lagos/lagoas, o que faz que  seja conhecido  de Região dos Lagos. Os lagos em maior destaques são:  do Taboão e o Lago da antiga chácara Alfeu Grimello.
Hoje o Taboão, é tido como bairro de elite. Nele vemos modernas construções residências e do comércio.   Há escolas nos diversos níveis de formação: do  ensino fundamental até as preparatórias para o ensino superior. É destacado  centro gastronômico da cidade; é o maior setor médico- hospitalar da cidade e  quiçá da Região Bragantina.  O bairro possue dois hospitais: HUSF e a UNIMED ,  e também  diversas clínicas medico-odontológicas.
 No bairro, há mais de 60 anos, existe o Aéro-Clube, onde funciona a  mais antiga escola de pilotagem do interior paulista.

Todo esse apogeu do TABOÃO  é fruto do trabalho de seus moradores, e taboenses amantes do bairro.

Encerrando, quero recordar  de uma mensagem aos jovens,  manifestada há anos por um ilustre filho deste bairro.

“Aos jovens de hoje que serão os homens de amanhã, uma palavra: Esperança!
 Esperança no futuro do Brasil que é tão grande não só pelo seu tamanho, como na fertilidade do solo, na riqueza do seu subsolo. É só afastar da administração pública os elementos perniciosos e colocar os indivíduos certos nos lugares certos, e tudo se ajustará.  Para isso, é só dar uma formação ao povo.  Formação moral, intelectual e técnico.  O Brasil é maior do que todo mal que se lhe tem sido feito !” (Ângelo Magrini Lisa)



Convidado por professores de USF – Universidade de  Hotelaria e Turismo, o  assunto acima foi por mim  esplanado   em 12/05/2005,  quando da  palestra  que participei com os alunos  sobre o tema “Lago do Taboão: no Entrecruzamento das Potencialidades Turísticas com a História Local”


                                  José  Roberto  Vasconcellos

                                 
                                     jrvasconcedllos@uol.com.br


(volta)

                                                                                              (segue)