ÍNDICE      


ESCRITORES


 


JOÃO PAULO MARTINO


Nasceu em São Paulo no ano de 1969. Bacharel e mestre em História pela Universidade de São Paulo. Desde a adolescência, interessou-se pela escrita e, já naquela época, tentava escrever alguma coisa. É a favor da monarquia. Membro fundador da Academia Literária Atibaiense (ALA), onde foi o seu primeiro-secretário. Faz parte do Coletivo Quatati desde sua fundação e é sócio correspondente da ASES – Associação de Escritores de Bragança Paulista. Tem os seguintes livros publicados:
Rua da Saudade
Contos Assombrosos
1932: São Paulo em Armas
1924: São Paulo em Chamas
1918: Os Dias Malditos
Monarquia x República
Também Eu Escrevi Versos de Amor (Organização das Poesias de Anna Martino)
Contato: livrosatibaia@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/joaopaulo.martino.7




O IMPERADOR ERA MAIS ECONÔMICO
João Paulo Martino

A afirmação acima vem reforçar a ideia de que, no império, a manutenção da família imperial era muito mais barata do que a manutenção da presidência da república.
Cabe aqui ressaltar não se tratar de mera economia de dinheiro para o erário público. A grande diferença está nos aspectos morais dos líderes da nação dos dois tipos de regime. No período imperial, no Brasil, o imperador era o primeiro a zelar pelos gastos públicos em geral e, particularmente, sobre as dotações que a família real recebia.
Para clarear um pouco a questão, basta citarmos um fato: de 1841 a 1889, a dotação da família imperial permaneceu inalterada: 800 contos de réis por ano. E o imperador não utilizava esta verba só para sua família ou para a manutenção dos palácios, mas também subvencionava grandes artistas, como Carlos Gomes, Victor Meireles e Pedro Américo.
Quanto a Carlos Gomes, graças à pensão que o imperador lhe concedia pessoalmente, pôde concluir seus estudos na Itália. Sua obra-prima, O Guarani, teve estreia no teatro Scala de Milão. Jamais outro compositor brasileiro havia alcançado tamanho sucesso. Uma vez, Carlos Gomes declarou: “se não fosse o imperador, eu não seria o Carlos Gomes.”
Apesar de ter honrado o Brasil com sua obra, Carlos Gomes viu-se privado da ajuda imperial após a proclamação da republica, que lhe recusou uma pensão, justamente porque era amigo da família imperial. E ainda tiveram a vilania de convidá-lo para compor o Hino da República, que ele elegantemente recusou em honra ao seu protetor destronado. Isso apesar do orçamento geral do império ter crescido enormemente (de 15.000 contos de réis em 1841 para 150.000 contos em 1889). Curioso é notar que um dos primeiros atos da República foi o de fixar para o Marechal Deodoro um salário de 1400 contos de réis.
Vejamos outro exemplo da diferença de gastos nos dois regimes: as viagens. Diz-se que os governantes são grandes passeadores. A julgar pelos presidentes de nossa república, a afirmação não poderia ser mais correta. Comparemos alguns dados e o leitor, pausadamente, poderá refletir e tomar suas próprias conclusões.
D. Pedro II fez três viagens internacionais em toda sua vida. Pagou-as de seu próprio bolso. Na primeira vez que viajou ao exterior (1871), ao conceder a Assembleia Geral a necessária licença, o deputado Teixeira Jr. propôs que a Assembleia liberasse uma verba de 2000 contos de réis para a viagem do imperador. Discordando, o deputado Mello Moraes propôs 4000 contos de réis e um aumento da dotação da princesa Isabel, pois ia assumir a regência. Veja o leitor o bilhete que escreveu D. Pedro II ao ministro do império, João Alfredo Corrêa de Oliveira:

    “Espero que o ministério se apresse em fazer desaprovar quanto antes semelhantes favores, que eu e minha filha rejeitamos. Respeito a intenção de todos; mas respeitem também o desinteresse com que tenho servido à nação.”

E tem mais. Quiseram que um navio de guerra escoltasse uma comitiva de outros três navios para levar o imperador à Europa, mas D. Pedro II embarcou mesmo em um simples navio de carreira. É como se hoje o presidente da república tomasse um avião no aeroporto de Brasília, aguardasse no saguão do aeroporto, esperando como todo mundo, e se submetesse a todos os procedimentos como qualquer cidadão comum.
Mas se o leitor não quiser acreditar, vejamos um exemplo republicano. O presidente José Sarney, em cinco anos de mandato, fez 34 viagens internacionais, passando 124 dias fora do país. Levou nestas viagens 2020 convidados. Só na viagem para o bicentenário da Revolução Francesa, Sarney utilizou-se de dois Boeings para seus convidados, além de um DC-10 para seu conforto pessoal. Essa gente toda se divertindo a valer nos hotéis mais caros de Paris e ninguém pôs a mão no bolso. Tudo foi pago pelos cofres públicos, ou seja, o cidadão arcou até com as lembrancinhas...




ÉRAMOS TÃO FELIZES EM 1975

Éramos tão felizes em 1975...
Aos domingos pela manhã,
O pai nos chamando e dizendo:
- Padaria!
Nós crianças levantávamos,
Rápidos,
Qualquer roupa era boa,
Qualquer preocupação parecia à toa.
No caminho, pensávamos nas escolhas
Um Diamante Negro? Um Sonho de Valsa? Um pão doce?
Pai dizia:
- Meninos, escolham uma coisa cada um...

E éramos tão felizes em 1975...
Depois brincar,
E sonhar,
Sim, sonhar...
Com um pano velho nas costas
E com um leve caminhar,
Imaginávamos
A capa de um super-herói.
Pulávamos do parapeito do terraço
E então acreditávamos:
Era possível voar!
Éramos tão felizes em 1975...
Principalmente aos domingos.
Pai nos comprava um doce,
A escolha era nossa
E ele feliz sorria,
Um Diamante Negro, um Sonho de Valsa, um pão doce.
- Meninos, escolham um só...
Tudo era tão simples...
Pois éramos felizes em 1975.

(João Paulo Martino)




DO OUTRO LADO DA RUA

Do outro lado da rua,
Não há mais nada.
Nem casas, nem árvores,
Nem pessoas,
Somente lembranças.
A poeira do tempo
Tudo levou,
Sonhos, vitórias,
Esperanças.
Do outro lado da rua,
O vazio da existência,
O amargo da morte,
De Deus, a ausência.
Do outro lado da rua,
O silêncio da alma,
O novo Prometeu.
Do outro lado da rua,
Apenas eu.

(João Paulo Martino)




FRIO DA ALMA

O vento gelado,
Um frio escondido,
E a maciez agradável
Da calça de veludo.
Não me protege.
O frio vem de dentro,
Do cinza do dia,
Do escuro da alma.
Faço uma oração,
Incompleta,
E tudo está perdido.









 
(volta)