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ESCRITORES


 


Thays Feitoza

 


“Mulher, mãe, e uma menina que brinca com a caneta enquanto sonha em frente ao seu diário.” Define-se esta filósofa e funcionária pública, nascida em 1983 na cidade São Bernardo do Campo, em São Paulo.
Apaixonada pela vida e por Bragança Paulista, escolheu a cidade poesia para sediar a realização dos seus maiores sonhos: estudar filosofia, criar a filha entre rios e pomares na zona rural, ver nascer ali os sentimentos que precisam tornar-se poesia em seus versos e, agora se tornar membro desta Associação de Escritores.




 
Descrita, discreta e explícita

Sou Anita de Donato
Na literatura,
Sou conto inacabado,
Os poemas que rascunho,
Onde me rasgo e me reponho.

Sou Lolita de Nabokov

Que excita e enlouquece
Que incita a maldade.
Sou o beijo assíncrono
Na agonia de viver desejos.

Sou os cinco dedos da loucura
Que percorre a pele a procura
Do paraíso prometido
Aos amantes da véspera da morte:
Sou o que morre e o que mata.

Sou o que calo, o colo hipnose
Os olhos que murmuram quietos
Sem que perceba... e a pele exala
Sou o perfume que o prazer expulsa
Seduzindo moscas,
Sou dionéia devorando a gula,
toda a maldita gula.

Essa flor que desabrocha
Sem permissão do destino
E floresce ao sol, ao meio dia
E procria a distância, a ânsia
Na incompetência do amor inabalável.

Sou Anita, Lolita, Macabéa
Sou Helena de Tróia, sou Leda de Toledo
Filha de Eva, na história inventada
Inserindo-me em silêncio
Nas largas linhas do pecado.

Atrevo-me à vida.



Vitrais

Azul é a cor dominante
Nesta sala vazia
onde sou
Azul
a cor mais forte
ainda antes
areia... eu
todo o azul do céu
fragmentos
estilhaços cor de rosa estéril
preconceitos injetáveis
Sangue vertente
como o rubor nos rostos
depois de cada batalha perdida
desde a véspera do ventre.
Dilacero de renascer e resistir...
Resista!
Somos um vitral
de adornar
permitindo-nos
deixando guiar a luz
um espectro
mutação
cacos das mulheres
que eu já fui
e que matei...
Eu as mutilo fragmentos de liberdade!
Somos a janela
contendo a chuva
observando o frio azul
que reina absoluto
lá fora...
enquanto
dentro em mim
um clarão.
A mão que se nega
e acolhe os medos,
empunha a pedra,
quebra a vidraça.
Não!
Somos luz
a fresta de luz
invadindo a sala em raios
negando o breu
até ser voz
ou grito…
Até você ser capaz de enxergar.




Noites de amar

Aninhei-me no sofá com Cecília, e depois Clarice, assim que toquei em Simone de Beauvoir, percebi que o sol já acordara.
Sinto calor, e reclusa em meu lar, após um longo dia revendo meu passado e redecorando a casa ao meu gosto, não poderia dormir antes de um longo banho! Sem pressa deixei que a água quente, bem quente, me desenhasse as costas e acariciasse a nuca, entrei em meu quarto e de súbito reparei, uma belíssima mulher me observava em silêncio.

Me aproximei e ela sorriu, dei mais um passo e pude ver o quanto seus lindos olhos castanhos brilhavam! Linda! Não pude resistir! Deixei que a toalha caísse devagar, e quando aos meus pés percebi que ela contornava o meu corpo, primeiro com os olhos, depois com as pontas dos dedos, como se o toque sentisse o sabor da pele, e degustasse cada centímetro de mim. Observei que fazia igual, e com tamanha atenção, posso lembrar de cada detalhe de seu corpo abrigo ao fechar os olhos agora.

Tens um lindo sorriso largo, e a boca quente, como a água do banho que me percorreu. Nos ombros, descansam os caracóis dos cabelos castanhos, que emolduram o desenho do sol de seu biquíni, uma pinta como um beijo sobre seu seio esquerdo, em seu rosto e em seu colo, tantas pintinhas que desenham um céu estrelado. Os seios fartos, que encabeçam as curvas de sua cintura, sobre os quadris envoltos em uma pele suavemente morena, ainda mais morena do sol. Ao redor do seu umbigo, imperceptível aos olhos, as marcas de um grande amor em seu ventre. O calor e a carícia das coxas que se encostam, e toda volúpia do que a faz mulher. Os pés pequenos, as unhas claras. Um cheiro dela, só dela, simples como ela se despe e se veste de sonhos todos os dias.

Senti amor, um imenso amor que a tempos não sentia. Aproximei-me ainda mais, e outra vez mais até sentir sua respiração quente, sem pensar em nada além, beijei sua boca, no reflexo frio do espelho em meu quarto.
Sorri, e sorrio mais ainda, agora que posso dizer do meu amor por mim em detalhes!
Admiro demais esta mulher forte e corajosa, que me sustenta, me conduz e me traz paz, e que me fita orgulhosa, com olhos de ternura, quando diante do espelho.

Para o maior amor, o meu!
Por um olhar para si com mais gentileza!



 
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