ÍNDICE      


ESCRITORES


 


MARIALINI GARCIA CARDOSO BERTOLINI

 


É escritora de coração e professora de formação. Nascida em Guarulhos, a 05 de junho de 1972, formou-se no Magistério e em Educação Artística. Depois de formada, mudou-se para Bragança Paulista, cidade que adotou como sua, e na qual se casou e começou sua carreira como Professora de Ensino Fundamental, na Rede Municipal de Ensino. Em 2010 precisou afastar-se das salas de aula, indo então trabalhar em biblioteca escolar, e adora o que faz, pois está rodeada do que mais ama: os LIVROS.
    Sim, ama ler, escrever, assistir filmes de ficção científica, brincar com sua filha e ir pra praia... Escreve desde sempre: começou na poesia, se aventurou pelas crônicas e desabrochou na literatura infantil, que lhe rendeu, em 2013, o lançamento de seu primeiro livro infantil, intitulado “A Cinderela Que Não Era Bela”, pela Editora All Print.
    Segue um pouco de sua trajetória literária: em 1991 e 1992 participou de duas Antologias Poéticas, intituladas “Ciranda”, pela D.R.E. de Guarulhos; em 1993 participou da coletânea de textos “Livre para Criar”, com o poema “Presença de Alguém”, pela Universidade de Guarulhos; em 2013 lançou seu primeiro livro infantil; em 2016 participou da Revista Literária Fluxo – 4ª edição online – com o poema “Pensamento”; em 2017 venceu o V Prêmio Literário Cidade Poesia, promovido pela ASES, na categoria “Autor Bragantino”, com o poema “Estações”.
    É membro da ABL – Academia Bragantina de Letras - desde 2013 e agora também da ASES – Associação de Escritores de Bragança Paulista - e sente um grande orgulho de fazer parte de ambas as instituições.
     Quer continuar escrevendo até quando puder, pois crê firmemente na “palavra escrita” como uma fonte poderosa de mudanças nas almas das pessoas e no mundo.

  *  Para conhecer mais sobre a autora, acesse também:

www.academiabragantinadeletras.org

www.facebook.com.br/ACinderelaQueNãoEraBela




Aniversário (crônica)

      Em junho fiz aniversário. Completei 46 anos de idade. Quando eu era adolescente, jamais, digo, JAMAIS, me imaginaria com essa idade, pois quando se é adolescente tem-se a ilusão de que vamos estacionar, estourando, nos 30, e que teremos essa abençoada idade eternamente.
       Aí, não entendemos muito bem como (eita engrenagem inexplicável, essa do TEMPO!), os anos passam feito carros de corrida de Fórmula 1, e em um belo dia, eu acordo na minha cama, meio atordoada, como sempre, e me lembro que é meu aniversário! Como isso pode ser possível? Como, em nome de tudo que é mais sagrado, posso ter feito 46 anos?
       Pois é, mas fiz. E não adianta choramingar e nem se lamentar, pois essa é o pior modo possível de encarar a situação. Tento me congratular, da forma mais positiva que consigo, por ter chegado aos 46! Afinal, se eu vivesse na Idade Média, em que a expectativa de vida era de 40 anos, eu provavelmente já seria considerada uma anciã, com o pé na cova!Ou, o que seria mais provável, eu já estaria morta! Sendo assim, temos que concordar que tive muita sorte de nascer nesta época...
    Mesmo porque tudo é relativo... Para minha espécie - a humana - estou mais ou menos na metade de nossa ciclo de vida, mas para uma baleia da Groenlândia, por exemplo, ainda estou na infância, visto que esta espécie pode viver de 150 a 200 anos. E para a ostra “Arctica Islandica” então sou recém-nascida, já que ela pode viver até 400 anos! E ainda, se olharmos para o outro lado do espectro e nos compararmos com nossos queridos cães, que vivem até 15 anos, mais ou menos (dependendo da raça), somos muito, muito, longevos... Já para uma mosca, devemos parecer imortais, pois ela pode viver somente alguns poucos dias!
    O que acontece é que os seres humanos nunca se conformaram com suas limitações. Nós gostaríamos imensamente de vivermos mais, de termos mais TEMPO. De preferência, gostaríamos mesmo é de vivermos pra sempre! Creio firmemente que esta é a maior aspiração da humanidade, e que talvez, um dia isso possa vir a acontecer... Mas será que seria o melhor pra nós, como espécie?
    Como nos comportaríamos se pudéssemos viver, por exemplo, uns mil anos? Como administraríamos nossas vidas? Penso que uma das coisas que teríamos que mudar seriam os relacionamentos...
     Não haveria sentido nos casamentos como hoje conhecemos, pois provavelmente teríamos inúmeras uniões amorosas ao longo de nossas vidas (se a gente já nem agüenta nosso companheiro por 20, 30, 40 anos, que dirá por uns 500!). A questão dos filhos também seria complicada: quantos filhos cada pessoa poderia ter? Um, dois, no máximo? Qual o impacto disso para o planeta?
    Bem, penso que, ao chegar neste estágio de evolução, a humanidade já teria conseguido superar as barreiras dos voos espaciais de longuíssimas distâncias, e teria colonizado outros planetas... Mas, resta uma dúvida: quem teria que deixar o nosso mundo, quem poderia ficar? Seríamos uma sociedade humana tal qual em Star Trek, espalhada pelo Universo? Vivendo centenas de anos, nós, humanos, deixaríamos finalmente as guerras de lado, e conviveríamos mais pacificamente como espécie? E se, finalmente, entrássemos em contato com espécies extraterrestres inteligentes, como reagiríamos, como isso mudaria nosso destino?
    São realmente muitas questões... Creio firmemente que a humanidade chegará neste estágio de vida, pois a Ciência vem evoluindo continuamente, e vai continuar avançando a passos gigantescos: por acaso não nos admiramos quase todos os dias com as conquistas científicas que chegam ao nosso conhecimento? Não nos maravilhamos com o que o Homem vem conseguindo realizar? É só nos lembrarmos que o escritor Júlio Verne, no século XIX, teve a incrível ousadia de escrever livros como “Vinte mil léguas submarinas” e “Viagem à Lua”, livros estes que foram considerados em sua época como pura ficção; sendo que anos e anos mais tarde tornaram-se realidade!
    É, o TEMPO... Em nossas vidas atuais, vivemos reclamando que ele nos falta, que ele nos é escasso... Principalmente - e vejo isso muito bem agora, ao fazer 46 - queremos aproveitá-lo o melhor possível, queremos realizar todos os nossos projetos que ficaram na esteira dos anos... É uma corrida inglória contra a velhice chegando, contra a desilusão dos sonhos que se perderam pelo caminho...
    Penso com muito mais clareza do que na juventude, minha mente está mais “afiada” do que nunca, e sei que o que mais quero, realmente, é ter tempo de qualidade... É ter aquele tempo que não se escoa tão rápido, tão fugaz, mas sim um tempo meio assim, “desacelerado”, um tempo em que todo instante é de extrema importância... Tempo degustado, apreciado, como uma deliciosa barra de chocolate...
    TEMPO para as coisas realmente importantes: pra amar, pra curtir a família, pra ver minha filha crescer, pra viajar, pra ler um bom livro, pra escrever, pra descansar à beira da praia, olhando o mar azul...
    Enfim, tenho 46 anos. Sou uma alma imortal – disso eu sei – mas esse corpo, quanto tempo ainda terá?
    Não sei, e sinceramente, é melhor assim...





DESTINO

Talvez de um olhar não percebido
Tudo o mais pode ter-se originado,
Chama inconsciente de um sentido
Prestes estava a ser revelado.

Certamente em ambos estava o desejo
E a vontade latente da aproximação
Destino inexplicável, que formou o ensejo
Levando duas almas à união.

Quis realmente a alma que me anima
Depositar um beijo nos lábios teus
Sentindo que a ti ela se afina,

Correspondeste assim, a mudo e terno pedido
E com ânsia buscas os carinhos meus;
Com amor, nossas vidas terão sentido..



HAIKAIS

VIDA

A areia molhada
Engole meus pés descalços;
Brevidade da vida.


ANDORINHAS

No céu cinza voam
Andorinhas; desordenadas:
Crianças no parque.


SEMENTE

Semente é riqueza
Oculta; ainda latente...
Cultive a (se)mente



NA FILA

      Estava eu na fila de um dos caixas de uma loja de departamentos, aqui em minha cidade, esperando pacientemente minha vez de ser atendida, quando, sem ter o que fazer, comecei a prestar atenção em uma mãe e sua filhinha, que estavam na minha frente.
      A mãe, provavelmente com uns 30 a 35 anos, com os braços cheios de mercadorias (principalmente toalhas e lençóis) com um ar resignado no rosto, ouvia o que dizia sua filha (um verdadeiro “catatau”, com no máximo 1 metro de altura, franzina, uns 5 ou 6 anos):
     _ Pois é, mãe, como eu ia dizendo, eu QUERO aquela toalha da Barbie – E continuou:
     _ Cara, cara! Você só sabe dizer isso! E eu por acaso não mereço? Quando é pra Isadora você compra! Pensa que eu esqueci do fichário das Princesas que você deu pra ela? Ah, não esqueci não! Portanto, eu QUERO a toalha da Barbie! – E colocava as mãozinhas na cintura, extremamente certa do que queria.
      A mãe, já meio constrangida (pois a fila inteira começava a participar da conversa, querendo saber, é claro, quem iria ganhar a pendenga), suspirou fundo e disse, firme:
      _ Filha, não adianta, desta vez não vou comprar o que você quer; quando a mamãe vier de novo na loja, eu compro.
      E o arremedo de gente, com a cara mais séria do mundo:
      _ Ah, então pode ser amanhã?
      (Risinhos sufocados na fila. Uma senhora , que estava atrás de mim, inconformada talvez com a “moleza” da mãe, murmurou baixinho:
“_Ah, se fosse minha filha...” ( E eu, mais do que nunca, continuei atenta na pequena batalha entre as duas).
      A moça do caixa chamou mais uma pessoa e a fila andou, o que deu a oportunidade da encabulada mãe tentar por um fim à conversa, ocupando-se de suas mercadorias, dobrando-as e empilhando-as. Mas a menina, mais persistente do que nunca, puxou com força a barra da blusa da mãe, e de cara fechada:
      _ Mamãe, não adianta disfarçar não. Eu não saio daqui sem minha toalha da Barbie! _ E ato contínuo à palavra, sentou no chão da loja, “perninhas de índio”, disposta a tudo.
      (Neste ponto, não só as pessoas na fila, mas também as moças dos caixas não tiravam o olho da menina e da mãe. Só faltavam correr apostas para ver quem ganharia aquela “singela” disputa, e eu a imaginar se um dia, quando crescer mais um pouco, minha filha também faria alguma coisa do tipo).   
     _ Filha, levanta do chão, vai sujar sua roupa! E eu já falei que não, e pronto! – Disse a mãe, sem gritar ou esbravejar - como, com certeza a maioria das pessoas já estaria fazendo - mas sim com uma calma de dar inveja a Madre Teresa de Calcutá.
     _Não levanto, não! Vou ficar aqui e fazer greve de fome!
      (A vontade de rir foi geral. Uma caixa, repentinamente sumiu embaixo do balcão, certamente por não conseguir conter a risada.
A senhora atrás de mim balançava a cabeça, em sinal de negação, e murmurava: ”O mundo está perdido mesmo, meu Deus... Onde já se viu...”)
     Finalmente chegou a vez da mãe da menina, que passou as suas mercadorias, conferiu o total, pagou e pegou duas enormes sacolas, pronta para sair da loja. A fila toda parou, em expectativa. O que iria acontecer?
      A mãe, sacolas nos braços, olhou firmemente para a filha e disse:
      _Bom, a mamãe está indo embora. Você vem ou não vem? _ E sem nenhuma indecisão, virou as costas e foi saindo.
     A pequena consumidora, sem nenhuma vergonha, levantou-se num pulo e chamou:      _ Espera mamãe, já to indo! Mas na semana que vem você compra a toalha da Barbie, não é? _ E saiu correndo atrás da mãe.
     E posso jurar que a brava mulher, dando uma olhadinha para dentro da loja, deu uma piscada para nós.



 
(volta)