ÍNDICE
ESCRITORES
Vladimir Inokov
NAVEGANDO...
Um dia chorei. As lágrimas formaram um rio, onde comecei a navegar entre as ondas e planícies.
O rio despejou-me no mar. Parei numa ilha. Vi-me Robinson Crusoé. Tomei uma carona na vassoura
da Maga Patológica que por acaso ali passava. Sobrevoei o Everest. Voei com as aves entre as
nuvens. Fiz companhia aos anjos. Vi a aparente paz do alto. O resplandecer do dia. A harmonia
dos planetas. Um foguete quase me atropela. Naveguei pela estratosfera sem destino, até parar
no Planeta Mongo, onde conheci o Flash Gordon, criado pelo ilustrador Alex Raymond. Acabei d
escendo do infinito no pára-quedas cedido pelo Armstrong. Caí no monte Vesúvio. Acendi o
cigarro na boca do vulcão. Lembrei da Pompéia. Peguei o alazão e cruzei as montanhas corcundas
e cansadas, cansadas de guerras, de devastação, do ser terrestre irracional. Pulei abismos,
atravessei novos rios, galguei planícies. Vi o Castelo, Venci os soldados. Matei o dragão.
Salvei a amada. Cheguei a ser profeta. Vidente. Envaideci-me um dia, e, como Fausto, fiz o
pacto com o lúcifer. Vivi uma eternidade. Chegou o dia, tinha chegado a hora: Não agüentei,
tentei ludibriar o satanás, mas não consegui, parei no inferno preconizado pelo Dante.
Inesperadamente fui salvo pelo Mago Merlin que me mostrou o caminho da verdade e fez compreender
e ter o espírito da caridade, desviando-me do mal. Tentei voltar voando para casa. De repente
uma explosão de luz. Não sei onde estou! Não vejo nada! Eis que apareço como Trovador em
pleno século XI, e, como um Virgilio, encantei as massas. Amei e fui amado. Dei amor e recebi
carinho. Deixei a minha passagem registrada nos anais da história. Tomei uma carona no balão
do Cantiflas, que estava dando uma volta ao mundo em 80 dias. Conheci o Julio Verne. Fui
ao centro da terra em Companhia do Tarzan. Refugiei-me na floresta e vivi com os anões,
ainda conheci e convivi com o Fantasma....
Voei a 80 km por hora pelos cipós de Bengala. Um dia, pensei, ser ou não ser, eis a questão.
Bastou isso para que eu me visse na Normandia. Fui Hamlet, vi o fantasma do meu pai. Horrorizado,
embarco clandestinamente no Sputnik e desci no Alasca para esfriar a cabeça. Conheci os índios
Kuriak, os Chuckchee e os Kanchadel, que alucinados pelo xamã, aquele cogumelo alucinógeno, quase
me degolam. Fugi voando nas asas de um pássaro peludo desconhecido e desci logo ali, ali na
Sibéria. Visitei o Papai-Noel, e como já era quase o fim de ano, aproveitei uma carona no trenó
atado as seis renas e o Velhinho São Nicolau me levou até o século XX. Como desci num set de
filmagem, aproveitei e visitei o Charlie Chaplin, visitei o Gordo e o Magro. Aproveitei e fiz
uma visitinha também ao Zé Carioca, que estava filmando com Pateta "Você já foi a Bahia?"Acabei
entendendo que nas comédias da vida, nos contos e nas fábulas estão contidas as verdades
universais. Mas nem todos os seres estão preparados para entender as mensagens ali contidas.
Refleti mais um pouco, de repente, dirigi o meu pensamento ao século XXI, e voltei. Voltei
depressa. Do medo do passado. Das injustiças indissolúveis. Das histórias nunca esclarecidas.
Do ser oprimido e desprezado pela sociedade. Vi-me livre. Acordei. Senti que tudo não passou
de um sonho, mas tropecei num presente ao pé da lareira. O velho Papai-Noel não havia esquecido
de mim ....
(volta)
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