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ESCRITORES


Gabriel Araújo dos Santos


Mineiro nascido em SÊRRO - 22.03.33. Passou a meninice, adolescência e parte da vida adulta em PEÇANHA - MG. Aposentado, reside em Campinas - SP - Seus contos e crônicas receberam significativas premiações, publicadas em antologias. "O Diário do Povo", de Campinas, vem publicando inúmeras de seus contos e crônicas.
Nota: Publicada na revista literária "Semaforo Rosso" , Firenze - Itália - marzo 1997. Primeiro lugar na cidade de Mococa - SP. Publicada em antologia.




À FLÁVIA, PARA DOS SONHOS LEMBRAR-SE

Miro à minha frente, estendida inerte e largada sobre a cadeira que a muitos já deu repouso, a boneca Rosa, nome que lhe deram talvez por acaso, como por acaso muitas vezes coisas boas acontecem em nossa vida.
Seria ela apenas uma boneca? Creio que não. Se fosse apenas e tão somente uma boneca, porque nos atrai tanto, a querer tocá-la, sentir-lhe a fofura, apertá-la nos braços e beijá-la sem conta?
É mais, muito mais que uma boneca, porque nela se encerra um monte de sonhos, um ror de recordações que ficaram pelos caminhos de nossa infância florida, de fantasias coloridas, de certezas e dúvidas a assaltar nosso espírito inquiridor. Ah! Quantas bonecas curamos, quantas bonecas alimentamos e amamos em nossos folguedos de fundo de quintal, à sombra dos laranjais!!!
Estariam elas hoje abandonadas? Quem sabe!!! Porque outros brinquedos nos surgiram do mundo pelas estradas, porém de vazios significados, por não trazerem, da infância, a doçura e a singeleza, férteis e plenos de mágico diálogo com os panos enrolados e pintados, que ao embalo de nossos braços choravam, sorriam e cantavam, sem o poder da pilha que a modernidade trouxe, mas pela sagrada intuição de que a inocência nos dotou.
Vai aí, Flávia, esse monte de panos chamado Rosa. Mais que panos, é o retorno ao seu mundo maravilhoso e encantado de sonhos e fantasias... Embale-se neles e seja feliz!!!
De seu pai


Se Eu Pudesse...

Ah, se eu pudesse...
Se eu pudesse voltar no tempo e no espaço...
E me fosse dado a escolher outra estrada,
Na certa não me afligiria hoje tal e tamanho cansaço
Que me curva o espírito, me tritura a alma a cada
instante que passa...
Dia a dia meus sonhos em fiapos são transformados...
Sonhos que dormindo e acordada eu sonhei
Vislumbre de uma felicidade que ainda não alcancei
E que está tão distante, milhões de anos luz!
Fim da procura, nada mais há o que me seduz... E sinto extinguir toda a ingênua vaidade
Das sementes em mim plantadas
Desde os tempos de menina ainda,
De quando me transformaram em adulta
Do tempo em que me fizeram esposa
Do momento em que me fizeram mãe, amante e serviçal
E do eterno instante em que me transformaram em
solidão...
E hoje já não sou parte de mim mesma
Sou o que os outros querem que eu seja
Alma submissa. Esperança??? Nem um lampejo...



(volta)