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ESCRITORES


Maria Luiza Raseira Arruda


Da minha sacada

Suaves brumas em tule esvoaçante diluiam-se na imensidão dando lugar a majestosas nuvens alvas, que espalmando-se no horizonte, pareciam castelos de algodão e a Mantiqueira, magnificamente, chegavam a beijar.
Da minha sacada eu via a amplidão da paisagem constrastar com o astro-rei que, em filigranas douradas, escondia-se nas rendas dos eucaliptos.
Não sei por quanto tempo ali fiquei admirando a indizível beleza, quando percebi... anoitecia. A idéia de Jesus tomava meu pensamento, era véspera de Natal.
As casas nos vales e morros iluminando-se pouco a pouco pareciam agora um imenso presépio, trazendo Jesus, no aconchego de cada lar, rendendo culto ao amor à Maria, que envolvia com seu manto de paz toda Bragança.
Minha cidade poesia sorria diante de tanto esplendor e magia.
Notas de encantamento brotavam em meus lábios e em versos frêmitos de esperança, agradeci...


Indiferença

Mundo cão...vão...tão...
A fome nas entranhas tece o fio da miséria.
Medos, guetos, becos sombrios.
Sangrentas sarjetas, realidade perdida.
Droga...!
Dignidade esquecida, gente lixo!
Mães esmolam vida, imploram paz!
No frontispício da noite, crianças inocentes cantam uma canção.
É Natal, a canção é de esperança, ilusão...
Acreditam que o Papai Noel venha e lhes estenda a mão...
Do outro lado da esquina, avenidas iluminadas em lampadinhas coloridas recobrem árvores de par em par.
A Alegria está no ar!
Presentes envoltos em fitas douradas esbanjam-se nas sedas dos sofás.
Mesas postas: flores, cerejas, nozes, damascos os assados vão enfeitar. A fartura, todas as bocas vão saciar.
É hora da ceia, cristais começam a tilintar.
E aquelas crianças nos becos sombrios...



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