Reencontro

 

Venci o medo e o respeito
E fiz como meus amigos
Quando chegam à meia idade,
Livrei-me de coisas fúteis
Inutilmente guardadas.
Esvaziei baús antigos,
Retalhei meias verdades,
Poemas velhos sem sentido,
Diplomas sem validade,
Telefones, cartões sem nomes,
Fotos de desconhecidos
De olhar opaco, perdido,
Que não me diziam nada.

Outra coisa não tenho feito
Senão reler documentos
Que trazem à tona um passado
De dor, sonhos soterrados.
Um peso, um espinho preso
Nas paredes do meu peito,
Tudo em nome de um amor
Que há muito não existe.
Nesta tarefa tão triste
De rasgar pedaços da vida,
Arranhei novas lembranças,
Fiz sangrar velhas feridas.
Mas para meu próprio espanto,
Nas lágrimas do meu pranto
Descobri saudades perdidas.