Pecado Original

Herdeira de Lilith
me encolhi na dor
dos amores natimortos...
 
Assombro...
Rondo...
Percorro o escuro e sombrio
coração
– berço vazio –
.
Filha de Eva,
deliberadamente
 mordi o fruto
dos amores fortuitos...
 
Desobedeci...
Transgredi...
 
Alma errante,
nem no Édem,
nem nas profundas trevas
me encontrei.
 
Depuro o pecado original
buscando
 meu espaço
entre o sagrado e o carnal.

Nas Asas do Anjo...


 Houve um estrondo só

e tudo ficou escuro.
Sangue e pó...
Então, um lindo anjo te segurou,
abriu as asas
e te embalou, tão cuidadosamente,
que nem te despertou.
Foste embora assim:
suave e adormecido.
Levaste contigo teus planos
de felicidade
E deixaste em todos nós o dano
da saudade...

Juízo Final

 
Não era mais um quarto na aurora,
não era nem o caminho, nem a trilha,
nem mesmo a linha  palmilhada
da trajetória à seta desfechada.
 
Não era o ontem, nem o hoje, nem o agora...
Não era a luz de todo amanhecer,
nem o canto da noite a se esconder.
 
Buraco negro do universo em brasa,
sem estrelas, sem cometas, sem o entreter
das falas, dos cochichos, das mandalas.
 
Findo o grotão da noite escura
findos os uivos dos lobos sob a nova lua
sem lugar para bruxas e zumbis...
 
Era, enfim, o renascer
do dia,
sem mácula,
sem a nódoa das feridas.
Vitorioso,
entre as dores escondidas.
Tudo novo...
Ausentes,  bem e mal...
eis que ressurge o Sol, fonte de  vida,
depois do juízo final.
 

 Limbo

 
No dia em que eu morrer, não quero ser lembrada
por nenhum desses momentos que vivi
rasgue as cartas que lhe escrevi, enamorada,
Apenas imagine a que não lhe remeti
 
Mês de junho... lua cheia...  noite estrelada...
Conserve a luz da estrela em seu olhar
Pois, se eu já cumpri minha jornada,
Caminhe só... Desfrute do  luar!
 
Caso não se esqueça de que eu existi
Vasculhe nas lembranças o sorriso que não dei,
a lágrima travada, a dor que escondi...
 
 Por fim, queime meus versos, esqueça que o amei
Porque nem suas saudades me farão voltar
do limbo, do nada em que me encontrarei.

Criador e Criatura


 No dia em que a primeira bactéria
cultivou no que viria a ser matéria,
a essência vital do Criador,
deu-se o que mais tarde se chamou de vida.
 
Muito embora, no início fosse tida,
como uma forma inferior de amor,
uma cadeia sabiamente armada,
fez com que fosse tão multiplicada,
que o Criador ao ver a criatura,
concedeu-lhe, num sopro de ternura,
uma alma à Sua imagem e semelhança.
 
Concedeu-lhe também a eternidade,
discernimento, fé e esperança,
além de ampla e irrestrita liberdade.
 
Mas, a criatura julgou que detivesse
em suas mãos a rédea do Universo,
sufocou sua alma em função da matéria,
percorrendo, cada dia, o caminho inverso.
E ao se distanciar do Criador mais se parece
com aquela primeira bactéria.

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