Amor maduro

 
Não fui aquela a quem beijaste a fronte...
Nem sou aquela a quem disseste sim
Sou a mulher colada em tua alma,
tua parceira, tua metade em mim...
 
Amo tua voz e teu silêncio
amo teu corpo que invade o meu
amo teu cheiro e teu destempero
amo-te tanto como amas a mim...
 
Amo além dos pudores e da moral.
Amo teu espírito com amor carnal
e amo teu corpo num sacro ritual
 
E porque nos amamos sem limites
neste amor pleno de maturidade
vivemos de verdade... e de saudade!

Do  amor...

  
Nem sempre o sentimento
é abstrato.
Basta um olhar,
um pensamento,
um ato,
para o que estava
encoberto
por pudicas vestes
se concretizar
de fato...
Despertando
todos os sentidos,
audição, visão,
olfato,
tornando-se palatável
e sensível ao tato.
Nervos e músculos,
saliências e mucosas,
expandem-se e se contraem
coreografadas com exatidão,
pelas mãos adestradas do tesão.
E se confundem
corpo e sentimento,
neste galope
que começa lento
e depois vibra,
vibra e vibra mais
até que
o que era sólido
se liquefaz
e jorra o prazer
do amor molhado,
espalhando pelo ar,
seu cheiro almiscarado
de paixão e esperma...

Do banho... 

 
Acontece sempre essa emoção
(tamanha!)
quando, depois do amor, o meu amor
se banha...
Ouço o ruído da água escorrendo
docemente,
enquanto se forma  uma densa cortina
com o vapor da ducha quente.
A despeito de minha miopia
e o do banheiro enfumaçado,
consigo ver os contornos de seu corpo
refletidos no espelho embaçado.
E ele ao se sentir observado,
me sorri, quase encabulado...
desenhando, no vidro, com os dedos,
um coração flechado
Não mais resisto,
molho-me toda em seu abraço,
(pouco me importa se é pequeno o espaço!)
 e sob a água  do chuveiro,
tenho, de novo,
meu homem por inteiro...

 Affaire

 
 Fomos apresentados.
Prescindia..
A gente já se conhecia.
(De outras encarnações?)
Contatos imediatos.
Madeira de lei
e cheiro de serragem.
Fogos de artifícios!
Explosões de sensações!
Chuva miúda... Aragem...
Mágoas... Ressentimento...
Ciúme... Afastamento...
Rebatismo no chuveiro
Sabonete Phebo
(odor de rosas!)
Dissipa-se o nevoeiro!
Encontros esperados.
Inesperados desencontros.
A vida nos dosa.
Nem sempre o amo.
(que amar causa dano...)

Falso Direito (Women´s Lib?)

 
 Se um dia eu te quis nu,
não foi luxúria.
Era teu coração
que eu queria à mostra.
Nem a perícia de teus movimentos,
teve a importância dos teus sentimentos.
De nada me valeu
o falso direito
de mulher moderna e emancipada
se ao te rasgar a roupa
não te rasguei o peito.

Por um fio...

 
Quase sempre sinto
que nosso romance
está por um fio.
Às vezes,
um fio de nylon,
resistente, esticado...
Outras, um fio de linha
frágil, delicado...
Ou um fio de alta-tensão,
muitos volts de paixão!
Fio elástico,
estica... puxa...
vai e volta,
quase arrebentando
(o meu coração) .
Fio que me prende
tal qual um cordão
umbilical...
Fio telefônico,
onde nossas vozes
muitas vezes se embaralham.
Fios que tecem teias,
que se enrolam,
se embaraçam,
assim como nossas línguas
num beijo apaixonado;
tal qual nossas pernas,
quando se enroscam   
e se abraçam!

Ave de Imigração

 
Trezentos anos nas pedras
das ruas de Ouro Preto...
Ladeiras, becos, vielas,
telhados, beirais, janelas,
poças d’água refletindo
a parca iluminação.
 
Ladeiras... pedras molhadas...
Me escorrego nos teus braços
e me cubro com teu corpo.
Resfolgo,
me afogo
e grito
te mordo os lábios...
 
Trezentos anos nas pedras
das ruas de Ouro Preto,
me dá trégua a solidão...
 
E me resgato,
me encontro,
me reparto
 em tuas mãos...
 
Sou uma santa,
uma cadela,
sou Marília de Dirceu,
sou ave de imigração

que pousa no teu sossego,
repousa em tua paixão...
 
Te desperto,
te respeito,
me enlaço em tuas pernas,
adormeço no teu peito.
Nas pedras de Ouro Preto,
qual madeira aparelhada,
me amoldo ao teu formão...
 

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