S.O.S.


Do pó ao pó
Do tédio ao pranto
Do sentimento doce
ao sofrimento ( tanto!)
Da vida à morte
um passo
 apenas
nos separa.
Paro.
Ignoro os sussurros de minha antiga alma
carcomida
por desejos vãos
E ouço os gritos de um espírito,
novo em folha,
em  luta
 pela vida.
Opto
pelo despertar da aurora
(Ao diabo, o que me espera!)
Tenho urgência absoluta
do agora !

Medo

 
 Quase sempre me bate
um medo danado de morrer.
Sumir.
Desaparecer !
Virar um sorriso congelado
de fotografia
ou um nome qualquer
gravado numa lápide fria.
 
Deixar de ser
e me tornar referência:
a filha,
a prima,
a madrinha,
a tia distante
(que trazia presentes)
 
 Me transfigurar naquela
que trabalhava ali,
que escrevia poesia
que ninguém lia...
 
Pior !
Passar a ser
“Quem?”
“Filha de quem?”
Ninguém.
 
Ao se morrer,
pelo menos por respeito,
deve-se morrer para alguém.
Como tanta gente ainda viva
foi morrendo assim,
 aos poucos,
pelo menos para mim.
Ainda que respirem,
que chorem, que se virem...
Que sofram, que ardam,
que se... (danem!)
 
Tenho um medo danado
de morrer de repente,
medo de infarto,
colapso cardíaco,
de acidente...
 
Morrer
sem me preparar,
sem arrumar a bagagem,
sem escovar os dentes !
 
Não quero chegar lá em cima
(ou lá embaixo, quem sabe?)
despenteada,
sem cigarro,
sem isqueiro
e cometer a gafe
de perguntar ao porteiro:
- Tem fogo?
 
Muitas vezes,
me dá um medo danado de morrer,
antes de ter aprendido
a viver...

Bicho-Homem

 
 Às vezes,
servo,
outras, senhor.
Às vezes,
caça
ou caçador...
 
Dobrou as asas,
guardou a auréola,
seguiu descalço
o seu caminho.
Teve percalços,
colheu as flores,
pisou espinhos...
 
Como um reptil,
se arrastou,
como um peixe
aprofundou-se
nas águas turvas
de sua mente...
 
Voou a sós...
 
Não era um santo,
nem um demente,
um bicho-homem
só.
Simplesmente...

Presságios


 Não me disseram nada,
mas eu sabia
que era o definitivo e derradeiro dia.
Eu pressentia...
Nada me foi dito,
mas eu sabia
que a hora era chegada,
que o pescoço estava exposto
à lâmina afiada,
que o tempo era finito...
Nada me disseram.
e me deixaram-me assim
a sós... comigo.
Com meus temores,
meus presságios de horrores....

Criança


(Menor Infrator... Marginal...)
 Criança?
 
Ainda que não te amassem,
ainda que não te respeitassem,
ainda que não te amparassem,
às tuas próprias custas
 
Sobreviveste...
 
Porque possuis a garra dos desamparados,
a carência dos desamados,
e a revolta dos desrespeitados...
 
Mostraram-te o pó em lugar do pão,
 deram-te desprezo ao invés de amor.
Brincaste de bandido
com brinquedos de verdade.
 E o  “faz-de-conta” assumiu
de vez tua realidade...
 
A coragem,
 tu próprio a conseguiste
engolindo lágrimas,
esmurrando medos,
ocultando (nas sombras)
 os teus infantis desejos...
 
Roubaram de ti a infância,
impedindo-te de ser criança.
 Agora, chamam-te infrator.
 Talvez porque desamparo
não rime com  desamor...

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