À sombra da lua

 
Escondo-me na sombra da lua...
Perambulo
como um cachorro na rua.
 
Não vem do mar o marulho,
nem dos pombos um arrulho,
 
Alma inquieta...
Via incerta...
 
Nem um ranger de portão,
nem um pássaro no açalpão...
 
Tudo escuro...
 
Disforme e cego,
vaga o meu olhar distante.
Nenhuma luz no horizonte,
nada que chorar adiante...
 
Seco o rio,
Seco o  meu pranto,
seca a fonte,
finda o canto.
Longe de ti, meu amor,
Minha vida perde o encanto...

 Alvorada


é
alvorada!
o sol acorda
bocejando cores
e cantos de pássaros...
 
é alvorada
ainda durmo,
ignorando cores
e cantos de pássaros

Fases da lua...


Como a lua
parto
em quartos...
Lua cheia
 de amargura,
me desfaço
 em noite escura,
quando minguam
seus abraços.
Me refaço
 em cada ida.
Renasço
a cada
 partida...
 
Crescendo

 (quarto-esperança)
me sufoco de lembranças...

Mas, tal qual a lua nova


- elipse de prata -  s    o     l     t      a
 no avesso do universo,
minha alma se renova
e resgata
(com seu brilho)
os meus sonhos submersos.

Chuvas de Verão

 
 Dissipam-se sonhos com palavras fatais,
eis que se apresentam trancafiados os portais,
e enclausuradas as aves celestiais...
 
Na garganta, gritos guturais,
ranger de dentes,
prantos de dor nos umbrais...
 
Trovoadas,
Tempestades,
Vendavais...
 
E o vento varrendo
os varais,
os ais,
os nunca mais...
 
Nuvens intempestivas de paixão,
Sugerem chuvas de verão...

Passeio na madrugada...

 
Madrugada... ando a pé...
Lua... encanto... céu sereno
Silêncio... calmo... profundo...
Só eu e você no mundo...
 
Madrugada... ando a pé...
Minhas mãos nas suas mãos,
meu passo no seu compasso,
meu corpo no seu abraço...
 
Madrugada... ando a pé...
não sinto frio e  o tremor,
que toma meus sentimentos,
pressagia bons momentos...
 
Madrugada... ando a pé...
Apresso meu caminhar,
temendo  que o sol acorde
 e venha nos alcançar...

De luas e chuvas...


 Saudade
de luas e chuvas,
do frio, do vento,
do sereno, da  manhã.
Saudade
do cheiro de banho,
de risos, sorrisos,
de olhares pagãos.
Saudade
de seu ir não indo,
do terno tocar
de dedos e mãos.
Saudade de vozes
falando baixinho,
de suores, tremores,
de promessas vãs.
Não sei se eu ligo...
Ou se espero,
ansiosa, sua ligação...
Vou ao seu encontro,
sorrindo...
me abrace, me beije
não me deixe
mais ter saudades, não...

Como um rio...

 
 Como um rio fui represada,
aprisionada em comportas.
Serena,  mas de águas turvas,
uma lagoa já morta...
Lixo, lodo e entulhos
apodreciam no fundo
do inconsciente sombrio.
 
E eu, que era uma lagoa,
Quis voltar a ser um rio...
 
Só depois de muitas chuvas
contínuas e torrenciais,
me libertei das ferragens
e com a força das enchentes,
ganhei corpo, invadi margens...
Rompi medos e angústias,
arrastei desilusões,
afoguei dores e prantos
indo em busca do meu leito,
outrora seco e sedento,
fertilizando as encostas
e as barrancas do rio.
 
E a torrente cristalina,
seguiu livre, ganhou curso,
despencou em cachoeiras,
deu vida a animais,
alimentou as florestas,
atravessou as fronteiras,
exorcizando fantasmas,
preenchendo de emoções
o meu coração vazio...
 
E eu que era uma lagoa
Voltei, outra vez, ser rio...

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