Os haicais são minúsculos poemas de apenas três versos que somam dezessete sílabas. O
primeiro e o terceiro com cinco sílabas e o segundo com sete, na leitura ocidentalizada;
o haiku original em ideograma é grafado em uma única coluna vertical.
O haicai é uma das mais populares
formas de poesia clássica japonesa, embebido pelo olhar sutil e dinâmico da filosofia
zen-budista.
Para se compreender plenamente o
pequeno mundo do haicai é preciso olhá-lo não apenas como objeto de linguagem, mas como
um processo (indissociável de sua realização formal ) que exige um refinamento de
sensibilidade, algo nada fácil de atingir.
Para se chegar a um bom haicai é
preciso que o próprio poeta tenha se transformado num instrumento ultra-sensível, por
meio de uma longa vivência, algo que estaria mais próximo da sabedoria do que da
erudição
Nessa sofisticada chispa poética,
o primeiro verso apresenta uma situação, um quadro visual, uma cena: o segundo
mostra uma ação dentro dessa cena e o terceiro verso registra o resultado
desse movimento.
"Pétala caída".
que torna de novo ao ramo:
- Uma borboleta!" (
Moritakê )
A economia de meios ( o dizer muito com poucas palavras ), o olhar atento à imagem
instantânea, que cintila por um breve momento e logo se desfaz, o estado distraído e ao
mesmo tempo alerta se exigem dos haijins (como são chamados os haicaistas).
Entre os grandes mestres orientais
estão: Bashô ( 1644-1694 ), Issa, Buson, Shiki, Moritakê.
Mesmo que críticos e leitores
menos familiarizados com o universo baiku torçam o nariz para a sua aparente
simplicidade, o fascínio é comum a grandes artistas do Ocidente, embora, em nossa
língua, seja grande a dificuldade em responder à tendência oriental para a
condensação dos versos.
Merece relevo Guilherme de
Almeida (1890-1969), que consagrou o haicai com um toque especial, dando-lhe rima, e
que, rimado, ficou conhecido como "Haicai Guilhermino":
Chão humilde. Então
risco-o a sombra de um vôo.
"Sou céu!" disse o
chão.
A temática do haicai oriental
é a natureza; no Brasil, os temas são generalizados.
O haicai não é apenas objeto de
linguagem, mas uma prática que exige sensibilidade refinada, capaz de extrair poesia dos
eventos mais simples do cotidiano, como o canto de morte de uma cigarra:
"A cigarra... Ouvi.
Nada revela em seu canto
que ela vai morrer."
(Bashô )
Parece tolo aos olhos dos ocidentais, mas sem essa sutileza de visão, é impossível
compreender o verdadeiro fascínio do haicai.
Candida Papini
Presidente da ASES
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:
PEREIRA, Abel B.
- Aprenda a fazer versos
Florianópolis/SC: A Figueira, 1992.
ASSUNÇÃO,
Ademir O Estado de São Paulo Especial -
Domingo-Literatura São Paulo- 1997.