UM ENCONTRO INESQUECÍVEL
São muitos os encontros que inesquecivelmente guardamos na lembrança.
Por certo, aos bem casados, a data
de seu enlace perpetua-se em prazeres em sua memória.
Aos competidores, todo momento de
vitória é uma renovada glória.
Aos homens da política, toda
eleição garantida, intensifica-lhe o desafio.
O que dizer então de uma mãe?
Cada nascer de um filho, dá-se a
plenitude de si mesma.
Crianças e adolescentes colecionam
inúmeros momentos inesquecíveis.
Para muitas pessoas, infelizmente,
até a morte se transforma em um momento inesquecível, pois encerra o convívio terrestre
entre pessoas que se querem bem.
A mim, um momento que teimosamente
se mantém em minha lembrança, vem constituído pelos acontecimentos que precederam o meu
casamento.
Juntamente com meu noivo, (hoje
marido), a escolha do local onde se deveria realizar o Sacramento era uma questão
amplamente discutida.
Sustentava ele a proposta (muito
justa, afinal!), de nos casarmos legalmente em minha cidade, em meu estado e, a solenidade
cristã seria realizada junto aos seus familiares, que residiam em outro estado, pois seus
avós, já bem velhinhos, pessoas de grande religiosidade poderiam participar, junto de
outros casais amigos e parentes, como padrinhos de nosso matrimônio.
De minha parte, nada em contrário.
Da parte de minha família, entretanto, surgiram algumas objeções, que até o dia do
enlace civil não foram acordadas.
Cada um dos objetores expunha seus
motivos: dificuldade de saúde para enfrentar viagem longa, intransponibilidade
agendária, compromisso profissional, etc.
Certamente, que eu me sentia um
tanto frustrada por suas ausências, e isto era dolorosamente discutido, porém antes que
se fizesse o ajuste final, no aguardo da exclusão de todos os desentendimentos, tê-los
todos ao nosso lado, testemunhando a nossa felicidade, fazia-me sonhar de olhos abertos
muitas noites e dias.
Chegado o dia da cerimônia civil,
lá estavam todos eles, pais, amigos e alguns parentes, que muitas lágrimas me ajudaram a
secar neste dia.
Apesar da ausência já definida
às festividades do religioso, os que realmente não encontraram outra saída,
despediram-se de nós, entre lágrimas e beijos, com os desejos de que tudo corresse da
melhor maneira possível, e as recomendações para que eu não deixasse nenhuma dor
intrusa atrapalhar minha grande (e de todos!) felicidade.
A viagem foi feita em vários
veículos: alguns a fizeram em ônibus, outros em seus automóveis, e outros ainda,
partiriam no dia seguinte, pois a cerimônia estava marcada para daí a três dias.
Os sonhos me acompanharam a viagem
toda, já não conseguia pensar em nada a não ser na felicidade momentânea, que tinha
certeza, seria longa, para toda a vida, com aquele que me fora enviado, minha alma gêmea,
"carne e unha" como diz o ditado, visto que nascemos no mesmo dia, mês e ano.
Lá chegando, desfrutamos
longamente da companhia dos familiares de meu noivo, pessoas simples e da mais alta
simpatia e agradabilidade, onde o entrosamento entre todos apagava toda e qualquer
frustração.
Meus sogros arcaram com a despesa
total da festa, padre, igreja, hospitalidade, foi reconhecido que nesse momento eram os
que reuniam melhores recursos .
Na véspera do grande dia, fomos,
em grupos, conhecer melhor a cidade e conhecermo-nos uns aos outros, já que o encontro
entre alguns, era o primeiro.
Tiramos fotos, filmamos, brindamos,
já de véspera, reservando, é claro, alguns momentos para nos preparamos para os rituais
do compromisso.
No dia do casamento, enquanto me
aprontavam no instituto de beleza em que fui, levada pelas cunhadas, não pude evitar a
"lágrima intrusa", que me roubou mais de uma hora no programa traçado,
contrariando a recomendação para que não exagerasse no costumeiro atraso de noiva.
Já em casa, enquanto os últimos
retoques no vestido e acessórios eram dados, lembro-me que me ofereceram um cálice de
cristal com "água doce", dizendo ser ótimo para levantar o astral, caso este
insistisse em baixar.
Chegou enfim, o grande dia...
Com hora e meia de atraso entrei,
pelos braços de meus pais na igreja, e a contida emoção acelerou-me o coração , numa
abafada sintonia com a Marcha Nupcial...
Lá do fundo, ao meu encontro vinha
meu noivo acompanhado por seus pais, numa cerimônia extra-costumeira, numa igreja
costumeiramente lotada e, e numa tamanha emoção me deixei conduzir, quase nada notando,
a não ser o olhar corajoso e carinhoso daquele que daí a instantes seria meu companheiro
- "até que a morte nos venha a separar", ditou-me o inconsciente cristão,
doutrinado desde os primeiros anos de vida.
Caminhei, já com passos mais
firmes e até distribui alguns sorrisos a tantos rostos desconhecidos, que retribuiram,
aumentando a minha confiança.
Foi então, quando, já próxima ao
altar, as vozes afinadas do coral iniciaram suas bênçãos acompanhadas pelo som de seus
afinados instrumentos, no "Aleluia de Hendell", que me envolveram em êxtase, no
mais inesquecível encontro.
Emparelhados diante do altar,
formando casais-padrinhos, dez de cada lado, estavam aqueles que não esperava comungasse
de minha felicidade grandiosa, numa festa grandiosa, numerosa e bem organizada.
Só tive mesmo é que conter no
peito a grande alegria, até poder extravasá-la ao final da cerimônia, entre abraços,
beijos e lágrimas trocadas, mesmo comprometendo a qualidade das fotos, na maquilagem
semi-desfeita.
Este foi, inesquecivelmente o mais
marcante encontro de minha vida, o qual, até as intrusas lágrimas parecem querer
reviver...
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