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ESCRITORES


 

Myrthes Neusali Spina de Moraes

 


 Natural de Bragança Paulista e residente na cidade de Atibaia/SP. 

É professora, com cursos de Especialização e Administração Escolar.

Formada em Pedagogia e Direito.

Participou de teatro amador, em Bragança Paulista, na época de infância e juventude.

Gosta de escrever e declamar poesias. Participou da Antologia referente ao XII Concurso de Prosa e VIII Concurso de Poesias, promovidos pela ASES (Associação de Escritores de Bragança Paulista), em 2007.

Tem participado de várias atividades literárias. Dedica-se à pintura em tela e restauração de imagens

Pertence a ALA - Academia Literária Atibaiense -, sendo titular da cadeira nº 21. Fez parte da III Antologia - Verso e Prosa - publicada por essa entidade, em 2008. É Delegada da UBT (União Brasileira de Trovadores), em Atibaia/SP





Cidade em pânico

A cidade, até então pacata de Bragança Paulista amanheceu em polvorosa!!! Corria por todos os cantos o desaparecimento misterioso e repentino de quatro crianças, -um menino e três meninas- que brincavam tranquilamente nas redondezas de suas casas. A falta de notícias aterrorizava a população aflita contagiada pelo terror e medo... Antes que chegasse a noite, portas e janelas eram trancadas. Reforçaram a seguranças das casas... Grades de proteção foram instaladas às pressas. As crianças amedrontadas só iam às escolas quando levadas pelos pais... Professores assustados temiam pela segurança dos alunos, principalmente, por aqueles que moravam mais retirados A cidade vivia num intenso clima de terror e tormento... Ninguém conseguia trabalhar e muito menos conciliar o sono...
Radialistas, jornalistas, policiais e bombeiros alertavam a população a todo instante. Ao menor toque da cirene, todos estremeciam. A busca era incessante. Helicópteros vasculhavam as matas, bombeiros adentravam os rios. Ouvia-se o tropel da cavalaria rondando a cidade até o amanhecer. Tudo em vão!!! As chuvas fortíssimas de verão no final das tardes pioravam ainda mais as buscas...
Certa noite... Não muito tarde ainda, ouviu-se o zumbido de um tiro. Como em dueto, deu-se um terrível estrondo. Raios cruzavam a imensidão do céu, despejando sobre a terra imensos clarões e a seguir desabou uma terrível tempestade destelhando casas e arrancando árvores centenárias, deixando a mostra suas gigantescas e tortuosas raízes.
Foi nessa hora, que se ouviram gritos distantes, seguidos de gemidos e famílias inteiras- como sombras misteriosas- começou a surgir por todas as ruas O clamor foi tomando conta da população que gritava desesperadamente:
-Canalha, canalha, monstro, assassino!!! Queriam linchar o homem, que surgira não se sabe de onde...  cujas características denotavam loucura e pânico.
Suas vestes eram sujas, maltrapilhas, manchadas de tons avermelhados. Usava chapéu de couro e um enorme saco nas costas. Tinha olhos esbugalhados, orelhas de abano, nariz grande e retorcido. Da boca, escorria um viscoso e nojento líquido ferruginoso.
Encurralado pelos policiais tentou fugir, mas, tropeçou caiu por várias vezes e já sem forças deixou-se aprisionar, uivando como um bicho selvagem. A fala, comprometida pela falta de dentes era entremeada de estridentes gargalhadas.
Na delegacia, confessara o hediondo crime, cujas cenas macabras estarreciam até mesmo os policiais acostumados a vivenciar os mais tenebrosos crimes. O maníaco, sem o menor constrangimento, descrevia o que fizera com as pobres e inocentes crianças. Induzira-as a segui-lo dando-lhes doces e brinquedos. Arrastara-as a um taquaral, distante da cidade e ali, amordaçara-as e uma a uma fora matando, vilipendiando, e comendo-as aos pedaços. Soube-se, mais tarde, que  outra vítima, também criança, fora encontrada morta e enterrada, trazendo algumas características dos crimes anteriores. Algemado, fora transferido para o hospício de “Juqueri” na cidade de “Franco da Rocha”, onde meses depois, fora encontrado morto, enforcado em sua própria cela. 
Desvendado o mistério, no cemitério de Bragança foi construído um túmulo com quatro gavetas, onde se encontram as fotografias com o nome das crianças. A visita no local é constante. O túmulo, mais parece um jardim de flores, com inúmeras placas de agradecimento pelas graças alcançadas e o enorme cruzeiro, que fica em frente, ladeado por velas, que permanecem constantemente acesas, em memória àquelas crianças vítimas da loucura humana. 


ALA- Academia Literária Atibaiense- 25/09/2008

 
 
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