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ESCRITORES


Wadad Naief Kattar


HORA DO POETA
 
Madrugada...
Tempo em que as águas repousam
e o riacho desliza suavemente...
O orvalho alonga-se na folha:
recusa-se a pingar,
talvez por temer quebrar
o encanto da calada.
O cão intui e não ladra.
Só o poeta arranha
a noite silenciosa...
Lavra o papel com a pá da palavra,
expõe seu segredo sem medo
e de sua dor, linha por linha,
faz o arremedo...


R E M O T AS A L E G R I A S
 
Em que abismo despencaram as alegrias,
cujo negror não permite vislumbrar
se inteiras ainda existem
ou despedaçaram-se em escarpas
tentando se enroscar ?
Quem sabe,
livre dos anseios e receios,
na leveza da alma lavada
seja possível impulsionar a escalada
para alcançar a beirada...
e recomeçar ...
como quem não quer nada...


TRANSPARÊNCIA
 
Desnudar-se...
ter a coragem de se expor,
mostrar os sentimentos,
dizer o que sente.
Derrubar a máscara,
que esconde as lágrimas
retidas pelo nó da garganta.
Escudo ingrato
que mantém imensa distância
entre o que somos  
e o que parecemos ser...
que esconde nosso medo,
(adquirido desde muito cedo)
nossa ignorância,
(que dissimulamos nessa ânsia
de esconder que não sabemos)
e nossa tristeza,
(que com muita destreza
camuflamos com risos...)
E assim, nos perdemos de nós
e não ouvimos mais a voz,
sussurro do coração, sutil conselho
que por toda a vida ignoramos,
e hoje tardiamente percebemos
que nunca conseguimos enganar
a pessoa a nos fitar no espelho.



(volta)