ÍNDICE     


ESCRITORES


Therezinha Ramos de Ávila


Ser criança

I
Quando criança, vivi sem medo
As mais lindas personagens,
Aquelas dos contos de fadas,
Num cirquinho de brinquedo

II
Era armado no quintal
Debaixo de velhas mangueiras
Sobre a terra de chão batido
Ao lado de trepadeiras.

III
No trapézio, imitação da vida,
Forrado de palha de arroz
Sonhamos eternas fantasias
Num malabarismo de amor.

IV
A inocência e a meiguice
Eram nossas companheiras
Das muitas brincadeiras e peraltices
Às mais puras brincadeiras.

V
Fugindo à realidade
Fingíamos ser cantores,
Poetas, palhaços da própria sorte
Galgando o palco dos atores.

VI
Assim passávamos as horas,
Rindo, pulando, sonhando...
E foi dando grandes cambalhotas
Que para a vida caminhamos.

VII
Foi este tempo de criança
O mais lindo, puro e intenso – posso dizer,
Sem medos e sem temores
Apenas, brincando de viver


Uma surpresa no céu

Estavam todos entristecidos, pois haviam se mudado há pouco tempo para aquela cidade.
Não conheciam ninguém. Tudo era tão diferente...
O Sr. Daniel, dentista, de vez em quando se mudava, sempre achando que seria melhor sucedido numa localidade menor, ou talvez, em outro ramo de negócio, quem sabe?
Estavam ali, já há alguns dias e nem sequer conseguiram uma casa adequada para eles e seus filhos.
O Natal se aproximava e o dinheiro que haviam trazido, e que não era muito, já estava chegando ao fim.
Dona Marta chorava pelos cantos, rezando e pedindo à Nossa Senhora Aparecida, sua madrinha, que os ajudasse, que seu marido arranjasse muitos clientes e pudessem ter, pelo menos, um Natal feliz.
Seu Daniel estava também muito preocupado, mas conversador e inteligente, deu-se bem ali e logo começaram aparecer os primeiros clientes- gente simples, de pouco dinheiro, pediam abatimento, deixavam para pagar depois da colheita ou trocavam por ovos, frango, feijão, etc.
E assim os dias foram passando e nada acontecendo.
Faltavam apenas alguns dias para o Natal. A cidadezinha iluminada. A igrejinha toda enfeitada, o presépio já montado esperava pela vinda do Menino Jesus.
As crianças, na expectativa do Papai Noel, estavam eufóricas, encantadas com tantos preparativos.
Dona Marta, rezando, não perdia as esperanças.
De repente, alguém batia à porta:- Telegrama para o senhor Daniel!
Abriram a porta e qual não foi a supresa.
O pai de dona Marta, Sr. Antonio, talvez, imaginando a situação da família naquele lugarejo distante e sem muitos recursos, enviava juntamente com o telegrama, uma grande caixa de presentes, frutas natalinas e toda sorte de coisas para eles, além do dinheiro , que avisava, viria pelo correio.
As crianças pulavam de alegria e dona Marta, chorando, agradecia à sua madrinha e ao Menino Jesus a grande graça alcançada.
Dizia às crianças, rindo e chorando ao mesmo tempo:- meus filhos, meus filhos, foi uma surpresa do céu, Deus nos ouviu!!!
Foi o mais lindo Natal que haviam passado.


(volta)