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ESCRITORES


Lida Leda Montanari Leme


Milagre de Natal


O Natal estava chegando.
Zezinho escreveu várias cartas a Papai Noel, pedindo um presente especial. Ele sabia que era um pedido difícil de ser atendido.
Ele era bem pequeno quando o pai se fora; havia deixado casa, trabalho, esposa e filho, para ir viver no estrangeiro, em busca de outras oportunidades.
No começo, ele mandava, dos Estados Unidos, para onde havia ido, lindos cartões, cartas e dinheiro.
Com o passar do tempo, os cartões e as cartas foram rareando, o dinheiro diminuindo, até que receberam a notícia: ele estava vivendo com outra mulher.
Zezinho assistia, triste, o desespero da mãe e então a enchia de beijos, abraçava-a fortemente, pensando que, assim, ela ficaria alegre.
À noite, em seu quarto, ele ficava horas olhando a foto que estava na mesinha de cabeceira, onde se via a família feliz, procurando ver, no retrato, a imagem que tinha do pai, tão difusa em sua memória.
Chegou a noite de Natal. Não havia chegado nenhuma mensagem de seu pai.
Mãe e filho foram à Missa do Galo.
Zezinho viu o menino Jesus deitado em sua manjedoura e pediu a Ele que trouxesse seu pai de volta.
Pediu tanto, tanto, com tanta força que lágrimas brotaram de seus olhos, escorrendo pelo rostinho.
A Missa terminou, eles voltaram para casa, onde os esperavam a avó, os tios e os primos para a ceia.
Entraram e o menino viu, espantado, um homem parecido com seu pai, vindo em sua direção com os braços abertos.
--- Meu filho, quanta saudade!



Emoções


Olho-me no espelho.
Vejo um rosto sulcado de rugas.
Onde está aquela jovenzinha, de sessenta anos atrás?
A face lisinha, tão linda! Não havia vivido ainda.
Os anos a fizeram passar bons e maus momentos e cada emoção marcou sua alma e seu rosto.
O que vejo no espelho?
Vejo uma mulher que amou, que lutou, que teve muitas esperanças e muitas desilusões, muitos sonhos e muitas frustrações, muitas alegrias e muitos dissabores...
Todas as emoções estão gravadas na face refletida à minha frente e me mostram que eu vivi plenamente e não apenas passei pela vida.



Sempre é tempo de recomeçar


Eu me aposentei em 1986, aos 61 anos, quando era professora da EE Ministro Alcindo Bueno de Assis.
O primeiro ano foi de euforia, livrar-me da escravidão do relógio, dormir até mais tarde, fazer tantas coisas que não podia antes por falta de tempo.
Em 1988, meu penúltimo e nono filho ia se casar e depois eu iria conhecer a Itália, terra de meus pais, sonho há tanto tempo acalentado! Quando voltei da viagem, achei que nada mais me restava a fazer e caí em depressão. Foi horrível!
Em 1994 surgiu minha salvação. Foi criada em Bragança Paulista a Universidade para a Terceira Idade da USF. Minha vida ganhou novo sentido quando comecei a freqüentar as aulas que a universidade oferecia.
Fiz curso de teatro, de canto, de línguas, de informática e vários outros. A Faculdade representou para mim uma vida nova. Os filhos tinham suas famílias, suas profissões, seus interesses e, por mais que me amassem, não preenchiam a minha vida. Nos cursos que eu fazia e que ainda faço, encontrei novos amigos, troquei experiências com meus colegas, aprendi coisas novas. Fui coordenadora do jornal Renascer ,nessa mesma universidade e escrevi muitos textos, descobrindo assim meu pendor para a Literatura.
Resolvi, então, tornar-me participante do quadro Associativo da ASES - Associação de Escritores de Bragança Paulista, onde atualmente exerço o cargo de Diretora Social, da qual fazem parte poetas e escritores de nossa cidade e, quando são realizados concursos literários, concorrem até pessoas do exterior.
Atualmente faço também trabalho social de grande responsabilidade e descobri que em qualquer idade podemos enfrentar novos desafios.
No ano de 2001 aceitei a presidência da " Comunidade Sorriso", creche que atende 90 crianças de dois meses a três anos de idade, cujas mães trabalham e não possuem meios de pagar uma escola para seus filhos. Nunca pensei que pudesse realizar um trabalho de tamanha envergadura, resolvendo problemas que não são poucos, buscando meios de arrecadar fundos para fazer frente às despesas da entidade, procurando voluntários para nos ajudar em serviços à creche, que não são cobertos pelos funcionários.
Diz um provérbio que para o ser humano se realizar ele precisa plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
Eu já plantei a minha árvore, tive 10 filhos e agora estou escrevendo um livro - Minhas histórias - o que não faltam para mim, que já cheguei aos 79 anos.
Estou muito feliz por realizar um trabalho social, exercendo minha cidadania e contribuindo para o bem-estar de meus semelhantes mais necessitados.



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