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ESCRITORES


ANNA SERVELHERE


LUSCO-FUSCO

No lusco-fusco das paixões carnalescas,
rompi as arestas de um pudor frio e machista
que concede à mulher, desde a mais terna idade
da gazela a pluma , nas vaidades chovinistas ...

Por suadas quatro noites de folia
rasguei a minha insossa fantasia:
vesti meu tererê, rodei minha baiana,
vesti a cinderela em meretriz...

Descortinando ébria o fogo da paixão
Desafiei inébria minha triste sorte:
me fiz amante vil, fiel consorte
do prazer escravo que se acaba em cinzas...

E que haja carnaval,se apaguem as marcas
deste amor, que de tão louco - bestial,
me fez mulher, sem antes ser menina...



A Questão Do Não Ser...

Nesta vida fui de tudo
Fui mendigo, vagabundo
Fui menor abandonado
Fui adulto explorado
Político exilado...

Nas longas horas da noite
Faminto, sofri o açoite
Da desnutrição que consome
As energias de um homem...

No leito de um hospital
Conheci a dor mortal
No cárcere da prisão
Visitou-me a solidão...

Fui a mulher desamável
Na força, discriminada
Viúva, mal aposentada
Prostituta explorada...

Fui no ventre do pecado
O aborto condenado.
Fui criança sem escola,
no vício de cheirar cola.

Das calçadas fiz abrigo
Perambulando perdido
tive meu crânio esmagado
Entre o lixo amontoado...

A dura questão do não ser
Será tributo ou é sina?!
Se é livre arbítrio o viver
como é que fica a chacina?...



(Mapa Cultural 2005 – Menção Honrosa na Fase Regional)

NOITE

É noite.
Me deito
Me quieto
Me ouço

Minha voz me diz
Que a quietude em mim
é o diálogo d’alma
que se acalma.
se encontra.
se abastece.

A prece em meus lábios
descobre o segredo
afasta o medo
em Deus me acho.

As mão se aproximam
reconhecem.
agradecem
pela dádiva da Vida!








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